domingo, 30 de novembro de 2008

:: Liquidação de Natal

Eu não quero virar referência negativa dentro da família e ser aquele que desiludiu as criancinhas dizendo que o Papai Noel não existe. Também não quero que as criancinhas olhem torto pro meu filho na pracinha porque ele não acredita no Papai Noel. Mas a verdade é que se o Natal é (ou tornou-se) uma data capitalista, então acho que eu devo me aproveitar de um dos fundamentos do sistema: a lei da oferta e procura.

Nos três primeiros anos talvez não seja um problema: os presentes de natal vão chegar em casa lá pelo dia 27 de dezembro e o bacuri não vai fazer idéia de que tem alguma coisa errada. Nos anos seguintes vou precisar ter uma conversa séria. Vou precisar falar pra ele sobre algumas verdades deste mundo.

Filho, escuta o que o papai vai te falar: a gente vive num planeta muito grande. Tem mais de 7 bilhões de pessoas espalhadas por aí, sendo umas 3 bilhões de criancinhas (quando eu tiver esta conversa estes números serão verdadeiros, tá?). Para dar presentes para toda essa gente, o Papai Noel precisa entender muito bem de logística. Mas mesmo utilizando os meios de transportes mais avançados, como renas-supersônicas, ele não consegue fazer tudo isso numa noite. Já conseguiu até, mas isso foi lá pelo século XVIII, quando existia um Papai Noel para cada região do mundo e muito menos criancinhas. Hoje em dia o Papai Noel do Polo Norte monopolizou o mercado global e acabou tendo problemas para atender toda a demanda. Aí ele resolveu o problema de uma forma bem simples. Sabe essas pessoas que o papai está te falando? Então... elas vivem em países com diferentes graus de integração ao sistema econômico mundial. Aí o Papai Noel criou uma hierarquia: criancinhas que moram em países centrais, como Estados Unidos e Noruega, recebem os presentes de Natal na noite do dia 24. Grécia e Portugal, da periferia da Europa, tem suas criancinhas presenteadas quando os primeiros raios de sol do dia 25 aparecem por trás das montanhas. Aí o Papai Noel gasta o dia 26 todo com as criancinhas chinesas, porque a China está se tornando uma potência mundial cada vez mais forte. Talvez Papai Noel nem priorizasse a China, por causa dos comunistas, mas eles tem uma bomba nuclear, e aí ele achou melhor não criar problemas. Dia 27 é a nossa vez: Brasil, Índia, África do Sul e todos os demais líderes regionais das áreas menos desenvolvidas do planeta. As criancinhas da Bolívia ganham presentes apenas no dia 2 de janeiro. E as da Namíbia recebem no início ou no fim de fevereiro, variando de acordo com a data do carnaval, já que o Papai Noel costuma curtir o carnaval em Nova Orleans. Eu sei que alguns dos seus amiguinhos ganham presentes de natal na madrugada do dia 25, mas é que os pais deles molham a mão dos duendes responsáveis pelo almoxarifado do Papai Noel e o seu papai é totalmente contra essas práticas corruptas, tá?

Tudo isso pra quê? Ora bolas, não está claro? Dia 26, passado o natal, é aquele dia que os vendedores estão putos da vida porque todo mundo entra na loja pra trocar presente. Além disso, já começaram as queimas de estoque. Aí eu entro na loja e surpreendo o vendedor dizendo que não, não vim trocar nada não, eu vim comprar um presente. Pronto. Estou no controle. Barganho um desconto sobre o desconto da liquidação e o presente de natal sai pelo preço da xepa da feira. E viva o Natal!

ps. Com a Páscoa dá pra fazer o mesmo, porque coitado do coelhinho que tem que distribuir ovos de chocolate mundo afora, né? A merda é conseguir desculpa pra aproveitar a liquidação depois do Dia das Crianças...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

:: Segunda safra

O Brasil, vejam só, 'tem um sólido muito árido'. Mais que isso, o Brasil, 'é um país europeu de clima muito quente'. Ainda assim, por aqui, 'em se plantando, tudo dá'. São certos milagres que me deixam orgulhoso de ser brasileiro. Nosso petróleo, por exemplo, 'foi colocado no litoral de forma estratégica para facilitar as exportações' e nossos 'recursos híbridos', apesar de mais 'incapacitados que os recursos dos países membros da OCDE', são muitos fartos. Nos anos 70 o Brasil era 'tão nacionalista que passou a importar apenas produtos nacionais'. Deveríamos retomar tamanho nacionalismo e bater no peito, pois nosso país conseguiu quitar a dívida com outros países, 'como o FMI, por exemplo', proibiu a 'estalação de lixões a céu aberto' e contribui menos do que a China para a alteração 'do microclima universal' pois lá 'há muito mais vulcões que aqui, além da explosão da bomba de eroxima'.

China, ah, a China... 'Lá tem tantos gases que o tempo fica esfumaçado e faz mal'. Seus raios solares 'são radioativos' e sua 'haitimosfera' é terrível, mas inspira poetas ('a poluição na China provoca eterna neblina') e auxilia na agricultura, já que 'o efeito estufa provoca a chuva ácida, que atua como pesticida no combate às pragas nas lavouras'.

O Brasil me orgulha e a China me dá lições. Os Estados Unidos, no entanto, vivem uma 'empidemia sem prencendentes'. Lá, a 'crise das hipotéticas' levou ao 'almento da anadiplência', o que tem feito com que 'os fixos virem fluxos e desapareçam pra sempre'. Tudo começou porque 'a compra de casas não supril os mercados e então os imóveis se desvalorizão'. Para pôr ordem na casa, ninguém melhor do que 'Chuck Norris'.

domingo, 23 de novembro de 2008

:: Vigilância e descontrole

Hoje eu entendi por que é tão perigoso andar armado por aí. E comprovei a eficácia intimidadora (intimidativa?) das câmeras de vigilância.

Sou uma pessoas muito controlada e rancor é uma coisa que reservo para pouquíssimas situações. Mas hoje eu fiquei com muita raiva e estou com gosto de sangue na boca. Sede de vingança.

Eu tinha cinco reais e queria um chocolate. A única forma de obtê-lo era inserindo a nota numa dessas máquinas de biscoitos e guloseimas. Ela aceita cédulas e moedas de todos os valores. E dá troco. Eu sei disso porque nos últimos dois meses tenho frequentado aquele andar do hospital São Lucas com uma regularidade que já me angustia. Então eu inseri a nota. Digitei o código. Era B1 ou coisa do tipo. Esperei a trava girar. Mas o chocolate sequer se moveu. Ficou lá enviesado e não caiu no compartimento de retirada do produto. Perdi um real e fiquei sem chocolate. E o pior estava por vir. A máquina devolveu os quatro reais em moedas de cinco centavos. Moeda é dinheiro, EU SEI, mas putaquiopariu, OITENTA moedas de cinco centavos fazem muito volume.

Bem, quem sabe o drops ou o torrone, né? Uma, duas, três, quatro...dez moedinhas de cinco centavos para totalizar cinquenta centavos. Digitei o código. 'No credits'. O QUÊ?! Essa máquina me dá oitenta moedas de cinco centavos e esnoba as mesmas moedinhas que acabaram de sair do seu próprio ventre?! Vadia!

Ainda me dei ao trabalho de ligar pro 0800 que estava adesivado no vidro. O robôzinho da Telemar (ainda não acostumei que telefone fixo virou Oi também) disse que o número não existe. Filhos da puta!

A raiva até então controlada começou a ficar incontrolável. E eu juro que se tivesse um pé de cabra eu destruía aquela máquina do inferno. Talvez eu nem levasse os doces ou o dinheiro armazenado. Mas senti vontade de vê-la destruída. Pena que tinha uma câmera posicionada estrategicamente para coibir atos de vandalismo. Pena! Ah, se não fosse aquela câmera...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

:: Baixando o nível

Quanto mais se mexe na merda, mas ela fede, não é? Já sentia imenso desprezo por essa instituição, sabe? O que eu sabia já era suficiente para desprezá-la. Nada mais mesquinho que levar a fama às custas do investimento alheio. Tipo fuga de cérebros, sabe? Eu ia dizer tipo gozar com o pau dos outros, mas achei que ficaria muito baixo. Ficaria, não ficaria? Mas aí que eu descobri outra prática detestável. Essa é mais no estilo varrer a sujeira pra debaixo do tapete. Colocar uma lista de nomes na fachada (gozando com o pau dos outros) e dar um ctrl+c ctrl+v dos outros nomes - os da parte inferior, o lado negro da força, o terceiro escalão - para o limbo de outra razão social é o cúmulo do mau-caratismo. E o pior é que como a parte fedorenta da coisa não emerge, a galera acha o máximo e vai pra lá feliz da vida. Só não sabe se vai virar nome na fachada ou na lixeira.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

:: Já chega

Quando começa 2009, hein? Não é nada com 2008 não, adorei 2008, mas é que, sabe quando você cansa? Pois é, cansei. Pra mim já tá bom de 2008. Então, quando começa 2009?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

:: Dispirdício

Começou a festa.

Em apenas um dia já aprendi que um dos efeitos da crise imobiliária foi a elevação da inflação "durante a presidência do Colo", que o sol está morrendo e por isso os gases migram para a Terra e promovem o efeito estufa, que o "Plano Marchel" ajudou o Brasil a substituir importações durante a Segunda Guerra, que nada melhor que aumentar as importações para alcançar uma balança comercial favorável (pra quem?), que o Brasil "dispirdiça" muita água e que ninguém precisa se preocupar muito com o aquecimento global porque todos os países já se acostumaram com ele mesmo.

Adoro aprender coisas novas.

sábado, 8 de novembro de 2008

:: Um barzinho e um camburão

O assunto era sobre como é interessante a retomada de velhos hábitos por parte do carioca. Nós mesmos, de uns tempos pra cá. Shopping só pra fazer compras, cinema, às vezes. Saída com os amigos, petisco e choppinho na sexta à noite, almoço aos domingos, tudo isso é muito mais gostoso nesses botecos com cadeiras espalhadas pelas calçadas. Odeio o Ancelmo Gois e seu Movimento dos Sem Calçada. Tá, carro estacionado não vale, mas duvido que ele não se amarra em tomar um cafezinho enquanto lê uma revista, aconchegando suas nádegas numa cadeirinha disposta sobre uma calçada parisiense. Morra, Ancelmo.

Mas eu dizia que o assunto era sobre como é legal perceber essa volta por cima do carioca, essa coisa de 'tô nem aí pra esse papo de violência, o que tiver que ser será, não vou deixar de sair por causa dos bandidos, melhor morrer vivendo do que viver enjaulado, blá blá blá'. Na mesa, duas garrafas de Antarctica Original porque a Bohemia tinha acabado. Seis copos. Do joelho de porco só havia restado os ossos. A conversa fluía leve, muitos sorrisos, uma beleza.

De repente um carro passa exigindo o máximo que seu motor poderia dar. Atrás dele um carro da polícia, sirene ligada, um pouco mais lento. Dois policiais debruçados na janela com fuzis ou qualquer coisa do tipo porque eu felizmente não conheço armas. Susto. Passou. Um ou dois goles. Seis tiros. Ou oito. Ou muito mais que isso. Bem perto. Em instantes quase 200 pessoas atropelaram-se umas às outras buscando abrigo no bar.

Aos poucos todos buscavam entender o acontecido. Ao que parece, o carro roubado retornou, seguiu na contra-mão e encontrou de frente com outro carro da polícia. Troca de tiros. Ao que parece, um bandido foi atingido, mas a perseguição continuou.

Saldo: uma cadeira quebrada, um casal assustadíssimo deitado no chão quando todos já retomavam seus lugares e um novo assunto em pauta: 'Até quando?'.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

:: Calor, Prova de Física, Obama e o Chaveiro

Achei que eu derreteria antes do fim do dia. Abriram a porta do inferno e só fecharam agora no fim da tarde. Logo hoje que trabalho em salas sem ar condicionado. Murphy é mesmo implacável!

Ninguém conseguiu definir o que eu senti hoje de forma mais objetiva que a Margarida: se a carne assada falasse ela diria 'tá vendo só? é assim que eu me sinto'.

-----------------------------------------------------------

Há muito tempo eu e Heitor conversamos sobre observar as pessoas sendo. Sua tese é a de que as pessoas atuam quase o tempo todo e raramente é possível observá-las sendo elas mesmas. Ainda segundo ele, o metrô é um excelente laboratório para observar as pessoas sendo. Pois hoje eu descobri outro: as provas.

Nada me entedia mais que fiscalizar provas. No Pedro II tem semana de provas e os alunos fazem duas sessões de provas de 1h45 com um intervalo de 30 minutos entre elas. Hoje, durante a segunda sessão de provas do segundo turno, minha revista já tinha acabado, eu não tinha mais notas para lançar no diário e as músicas do ipod já estavam sendo repetidas. Apoiei-me na janela e senti o vento que começava a soprar violentamente. Dali só me restava observar. Por quase duas horas. Observar apenas.

Talvez as pessoas ali não estivessem sendo tão elas mesmas se não fosse uma prova de física. Faltavam dez minutos para o fim do tempo de prova e apenas três alunos haviam terminado. Uns olhavam para o relógio, aflitos, a cada dez segundos. Outros coçavam a cabeça insistentemente. Havia aqueles que balançavam as pernas rapida e continuadamente. E aqueles que choravam. Todos pareciam estar sendo.

-----------------------------------------------------------

Coitado do Obama. Será que ele já se deu conta da rabuda que ele vai enfrentar? Acho que pra ele ia ser mais jogo dar uma de Gabeira e perder por uns votinhos. Na próxima ele vinha com mais força e se tivesse sorte pegaria um cenário econômico menos ingrato.

-----------------------------------------------------------

Deitei na cama e liguei a TV. A última pessoa a assistir deixou na Globo. A cena era assim: uma garota revirava gavetas por toda a casa enquanto berrava para a empregada que era impossível não ter um catálogo telefônico naquela casa. A empregada explicava que tinha, mas outro dia a fulaninha levou pra fazer papel reciclado na escola. Aí a garota berrava ainda mais alto e perguntava como é que ela ia fazer para telefonar para o chaveiro e destrancar o bebê que tinha ficado dentro do quarto. Como, meu deus?

Como é que é? O problema todo era esse?
Não rola 102? Google?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

:: 576%

"Obama eleito" já era suficiente.
Não precisava manipular dados para convencer, né, Globo?

A pergunta que não quer calar é: como é que a apuração nos EUA pode ser tão rápida? Não rola aquele papo de que em alguns estados o voto é no papelzinho? Não tem um ou outro que é de furinho no cartão? Então como é que eu vou dormir lendo que 'dentro de alguns instantes termina a votação nos EUA' e acordo lendo que 'Obama foi eleito'???


Uma aluna perguntou por que a eleição lá não é modernizada como a nossa, urnas eletrônicas e tal. O mais convincente que consegui ser foi dizendo que 'ora bolas, em alguma coisa eles tem que ser ruins, né?'