sexta-feira, 30 de julho de 2010

:: Considerações sobre Salvador

Passei uma semana na Bahia. Minha primeira semana na Bahia. Arraial d'Ajuda, Porto Seguro e um show do Olodum não estavam no roteiro. O destino principal estava a 7 horas a oeste de Salvador, dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina e atende pelo nome de Vale do Capão. Foram 5 dias de sensacionais cafés da manhã, necessários aos muitos quilômetros de trilhas. Foram 5 dias intensos de muito banho quente pra relaxar os músculos. 5 dias de belas visões, cachoeiras fantásticas e sem nenhum celular por perto.

Sobraram 2 dias para dedicar à Salvador. Não foram suficientes para conhecer tudo o que se poderia conhecer, mas foram suficientes para listar algumas impressões acerca da cidade, de seus habitantes e de suas configurações socioespaciais. As impressões listadas a seguir não têm validade estatística, são pessoais e intransferíveis e podem soar preconceituosas, mas não intencionalmente. Reclamações com o gerente. Grato.

1. Salvador não é festa o ano inteiro. Um dos dias que tive na cidade era uma 2a.feira e a noite não oferecia nenhuma alternativa senão jantar e dormir.

2. Baianos não são tão vagarosos quanto o estereótipo atesta. Os serviços dos quais dependi foram eficientes e as pessoas muito solícitas, à exceção do responsável pelo hostel onde me hospedei.

3. O sotaque é contagiante. Eu pego sotaque com muita facilidade e costumo temer que as pessoas pensem que estou debochando. Mas, olha, falei cantando e iniciei quase todas as minhas frases com 'oxi' durante o tempo em que lá estive. Sem medo de ser feliz.

4. A cidade tem prédios muito altos e muito estreitos, o que não é esteticamente muito agradável aos olhos. Não aos meus. Mas é surpreendente a ausência completa de prédios com mais do que cinco ou seis andares na orla. Se é limite de gabarito, não sei. Nem sei se Salvador tem Plano Diretor. Mas na orla tem-se a sensação de estar em Cabo Frio nos anos 80. Uma delícia.

5. Ônibus não deveriam ter buzina. Porque podem usar. E, vou te falar, em Salvador os motoristam usam.

6. Ou soteropolitanos adoecem pouco ou a Pacheco ainda não descobriu o potencial de Salvador. Precise de uma farmácia e você estará numa situação delicada.

7. Pobreza e riqueza dividem o mesmo quarteirão. Prédios luxuosos são vizinhos de sobrados com a fachada enegrecida e corroída. Interessante contraste em microescala, incomum no Rio.

8. Os prédios residenciais da cidade são de uma arquitetura bem mais ousada que no Rio. Listras, pilotis, formas geométricas complexas, cores fortes, recuos e avanços... Isso não é necessariamente uma coisa boa.

9. Pra ajeitar o trânsito da cidade, só transferindo Salvador pra uma planície. Imaginem Santa Teresa ampliada pra escala da metrópole. Imaginou? Então...

10. O metrô de Salvador (previsto pra ser inaugurado no ano que vem há dez anos) é o melhor assunto pra puxar conversa. Todo mundo tem um comentário a fazer.

11. Todos os caminhos levam à rótula do Abacaxi. E eu ainda não sei se o nome tem a ver com a fluidez do trânsito ali: um abacaxi difícil de descascar.

12. Trocadores não dobram notas. Amassá-las é muito mais legal.

13. Tudo é longe.

14. Taxi é caro pra cacete.

15. Andar de ônibus é muito fácil. Sério.

16. A cidade inteira está em obras/ em ajustes/ em reparos para o seu maior conforto e comodidade.

17. Não, a água do mar não é morna. Não no inverno, pelo menos.

18. Vinícius convenceu a todos os baianos que passar uma tarde em Itapoã é o melhor programa. Não é.

19. Biribiri não é o melhor sabor de sorvete que você pode escolher na Sorveteria da Ribeira, mas jaca é.

20. Lendo isso aqui tive a sensação de que eu mais não gostei do que gostei de Salvador, mas nem é verdade. Webjet e Gol voam regularmente com preços bastante em conta pra lá. Vale a pena.

21. Salvador nunca sai certo ao digitar pela primeira vez. Slavador. Slavador. Salvador.