segunda-feira, 23 de junho de 2008

:: Pessimismo, longevidade e macarrão

Existe pesquisa sobre (quase) tudo. Certa vez li em algum lugar sobre uma pesquisa realizada por profissionais de alguma área científica de alguma universidade estrangeira que concluía que os pessimistas são mais felizes que os otimistas.

A fundamentação da pesquisa é simples. Otimistas criam expectativas muito positivas e, portanto, correm maior risco de dar com os burros n'água. Além disso, quando algo de bom acontece, ora, eles já estavam esperando. Nenhuma novidade... Pessimistas, ao contrário, não esperam muito das situações e, assim, são surpreendidos positivamente com mais freqüência. E quando as coisas dão errado é porque tudo aconteceu dentro do previsto. Sem traumas, sem decepções.

Eu nunca havia teorizado sobre otimismo e pessimismo, mas a verdade é que sempre tive esta visão sobre a vida. Não que eu seja uma pessoa negativa. Posso afirmar com alguma segurança que minha aura não é escura e que minha energia não é pesada. Possivelmente não tenho espíritos obssessores me rondando e as flores não murcham quando passo por elas. Mas, apesar de muito ansioso, não espero sucesso a cada investida nem comemoro vitórias antes do fim do jogo. Isso ajuda a aceitar eventuais derrotas e deixa as vitórias especialmente saborosas.

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A pesquisa dizia também que pessimistas vivem mais. Posso imaginar o porquê.

- Vamos pegar um atalho. É só atravessar esta ponte de madeira sobre o precipício.
- Tem certeza? Ela não me parece muito segura...
- Ah, deixa de ser pessimista. Olha, tá legal, eu vou na frente.

CRAC!

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

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Meu primeiro parágrafo, lá em cima, reforça a metáfora criada por Rubem Alves para descrever o cérebro humano e a aprendizagem. Segundo ele, o cérebro funciona como um escorredor de macarrão: seleciona apenas o que interessa. A água vai embora. O macarrão fica. Quem quer saber quem fez a pesquisa? Quem quer saber onde ela foi realizada? A água vai embora. A pesquisa fica.

:: Fim de semana

Na tenda alada, um espetáculo maravilhoso. Muitas pessoas queridas dispersas na multidão. Vários encontros não programados e extremamente bem-vindos.

Do outro lado da colina, um frio delicioso e uma festa divertidíssima. Companhia da melhor qualidade. Valeu por cinco sessões de terapia.

Um fim de semana memorável.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

:: Seres falantes

"Já fomos uma sociedade de seres pensantes, mas nos tornamos uma sociedade de seres falantes".

Com essa frase tão simples quanto profunda, a personagem de Drica Moraes, em 'A Ordem do Mundo', sintetiza sua inquietude diante da centralidade que o celular assumiu em nossas vidas. É tão óbvia e ao mesmo tempo tão lúcida a conclusão a que ela chega que fiquei pensando sobre isso.

Eu sempre morei em apartamento, mas nem por isso deixei de brincar na rua. E quando saía pra brincar na rua, tudo o que minha mãe sabia era que eu estava na rua. E tudo o que eu sabia era que precisava subir antes das nove. Não tinha celular. Nada de 'onde você estava que não atendia o raio do celular, garoto?'.

Eu sempre estudei longe de casa. E aos 10 anos passei a pegar ônibus sozinho para ir e voltar da escola, do curso de inglês, do catecismo e do teatro. E tudo o que minha mãe sabia era que eu estaria em casa quando ela voltasse. E se não estivesse, era porque estava na rua, e voltaria antes das nove. Não tinha celular e eu continuo vivo.

Desde que me lembro, existem engarrafamentos no Rio de Janeiro. E sempre que o engarrafamento resultava em um atraso, ele simplesmente resultava em um atraso. Hoje em dia, os atrasos provocados por engarrafamentos, além de mais freqüentes, ainda são atrasos, embora antecipados por uma ligação aflita do tipo 'eu já tô chegando, só mais meia hora, é que tem um engarrafamento aqui, sabe...'.

Até que ponto o celular está aí para facilitar a nossa vida?

Uma aluna, dia desses, me disse que tem celular próprio desde os 8 anos, 'por motivo de segurança, pra minha mãe saber onde estou'. Se a mãe dela ligar e ela não atender, aposto, vai entrar em desespero. Mesmo que ela esteja apenas distraída e não tenha ouvido o celular tocando. A minha mãe, nos meus 8 anos, apenas aguardava que eu chegasse em casa antes das nove. E não tinha desespero. Não antes das nove.

Há 10 anos, quem resolvia tirar férias, tirava férias de fato. Hoje em dia, carregam celulares e junto deles a brecha para que sejam encontrados por seus chefes ou por seus subordinados para, em pleno momento de relaxamento, darem um parecer ou tomarem conhecimento de alguma ocorrência.

Nos ônibus, nas filas, nos sinais de trânsito, nas salas de aula, nos intervalos de almoço, nos elevadores, no caminho pro trabalho, no caminho pra casa, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê, em todos os lugares, estamos ao celular. Tornamo-nos reféns do celular. Criamos a necessidade de tê-lo e antes que nos déssemos conta, já não conseguíamos viver sem ele. Somos uma sociedade de seres falantes, tenho que concordar, ainda que angustiado.

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Eu ia começar a falar sobre os laptops e sua mobilidade maldita, mas desisti. Isso implicaria em falar também sobre os computadores e suas 'facilidades'. Melhor parar por aqui e recomendar 'A Ordem do Mundo', com Drica Moraes, fantástica, até 30 de junho, no Teatro Clara Nunes.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

:: Delivery

Eu acabei de ler no Globo, e não era no Agamenon:

"Se os extraterrestres forem tão suscetíveis quanto os terráqueos aos apelos da propaganda, eles poderão estar se empanturrando com os mesmos snacks consumidos aqui na Terra por volta de 2050. Trabalhando no mais extremo dos limites do conceito de ampliação de mercados, uma indústria alimentícia do Reino Unido lança hoje, no espaço, o primeiro comercial voltado exclusivamente para ETs. (...) O comercial, que será transmitido pelo radar de ultra frequência do Centro Espacial da Associação Européia de Radares, é direcionado a supostos consumidores alienígenas de um sistema localizado a 42 anos-luz da Terra, na constelação de Ursa Maior. A estimativa é que a propaganda alcance seu destino por volta de 2050. Por conta disso, uma possível resposta extraterrestre não chegará à Terra antes de 2092".

Questionamentos e considerações sobre o "feito histórico":

1. É sério mesmo?
2. Os pretenciosos britânicos criaram a propaganda em inglês ou em esperanto?
3. Quanto deverá custar a taxa de entrega do salgadinho?
4. Não seria melhor divulgar um produto não perecível?
5. Se a Domino´s se empolgar com a idéia, provavelmente terá que alterar seu programa de entrega. Acho difícil que os caras consigam chegar em Ursa Maior em menos de 30 minutos...

domingo, 8 de junho de 2008

:: Bom dia

Poucas coisas conseguem me irritar. Trânsito, gente falando alto pela manhã e fila de caixa rápido em supermercado são algumas delas. O trânsito, em especial. Levo numa boa garçom desaforado, pneu furado, despertador que não desperta e falta de energia em tarde chuvosa. Tiro de letra caneta falhando, computador travando e celular fora da área de cobertura. Mas não me peça pra entender gente que se recusa a acordar cedo em fim de semana.

Tá certo, às vezes é maravilhoso dormir até meio dia e tomar café na padaria às duas da tarde. Eu também gosto disso. Mas isso é gostoso quando é o programa do fim de semana, sabe? O que você vai fazer amanhã? Vou dormir mais que a cama! Delícia!

O que me incomoda de verdade é quando as pessoas deixam de curtir o fim de semana para dormir até tarde. Vamos correr no aterro amanhã? Ah, não, quero dormir até às 14h. Vai à merda, pô! Vamos à praia? Vamos, me liga depois das 11h. Pelamordedeus!

Eu acordo todos os dias da semana bem cedo para trabalhar. Motivação? Preciso ganhar dinheiro. Quando finalmente surge a oportunidade de acordar bem cedo para relaxar, pegar sol, beber uma água de côco, deitar numa rede e ler um livro, encontrar os amigos no Parque Lage, ler o jornal na beira da piscina, eu vou negar? Nem que eu fosse louco.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

:: Saúde, Cerveja, Inspiração e a Besta


Essa eu dedico ao Vitor, dono do 'buteco pessoal'.
E pra completar, tem cerveja barata.

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Eu ando sem inspiração. Muita correria e pouco tempo para perceber os temas do cotidiano que há algum tempo pulavam diante de mim ao caminhar distraído pelas calçadas. Não consigo mais pedalar e meus fins de semana extras (lembra deles?) foram pras cucuias. Claro, tudo por um bom motivo. Aliás, em breve poderei voltar a pedalar com certa regularidade. Talvez assim a inspiração volte a me rondar.

Este post aí é só por superstição. Hoje, ao acessar o painel do blogspot, fui informado de que eu tinha 66 posts neste blog e mais 6 posts no Istmo. Eu passo embaixo de escada, piso em linhas de calçadas, cruzo com gato preto numa boa. Mas com o 666 achei melhor não brincar.

terça-feira, 3 de junho de 2008

:: Programação

Marshall Wolfe, em seu livro Globalization and Social Exclusion: Some Paradoxes, de 1995, criou uma analogia interessante para se referir ao sentimento de exclusão social. Disse ele que podemos imaginar o mundo dividido em três grupos de pessoas: o grupo das pessoas que têm cartão de crédito, o grupo das pessoas que não têm cartão de crédito e o grupo das pessoas que não sabem o que é cartão de crédito. É possível considerar que as pessoas que desconhecem a existência do cartão de crédito estão mais à margem da sociedade capitalista. Mas as pessoas que conhecem o cartão de crédito e não podem tê-lo provavelmente sentem-se muito mais excluídas dentro desta sociedade por conviverem com a impossibilidade de terem acesso a algo conhecido.

Até um mês atrás eu não tinha tv a cabo. E então, quando eu buscava, sem sucesso, alguma coisa que me interessasse num determinado momento do dia, eu ficava chateado. Só chateado. Agora eu tenho tv a cabo. E quando, mesmo com pelo menos 10 vezes mais canais que antes, eu continuo não encontrando nada interessante, eu fico irritadíssimo.

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Acabei de ler no Globo Online que o medium Gasparetto perdeu seu programa vespertino de auto-ajuda na RedeTv. Dizia lá que o Ibope não andava bem e que dia desses o cara recebeu um espírito ao vivo para responder às perguntas dos telespectadores. É uma pena... Era o melhor programa de humor da tv aberta.