segunda-feira, 25 de outubro de 2010

:: O dia em que cancelei minha assinatura

Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2010.
Ao Jornal O Globo,

Eu não acredito na imparcialidade. Quando um jornal ou revista escolhem entre tantas notícias qual delas ganhará destaque, a parcialidade entra em ação ainda que se tente uma abordagem imparcial na cobertura do fato. Mas eu acredito na honestidade. Quando o jornal Folha de São Paulo emitiu sua posição de apoio a candidatura de José Serra não ganhou minha admiração, mas conquistou meu respeito. O Globo, ao se vender como neutro na cobertura desta eleição, mas praticar uma campanha descarada, suja e subliminar a favor de Serra, conquista meu repúdio.

Não quero discutir ideologias, cada um tem a sua. Ou não as tem. Também não quero discutir notícias. Elas são fabricadas. Quero discutir fatos.

Na segunda-feira, 18 de outubro, milhares de artistas e pessoas ligadas à área cultural assinaram manifesto em apoio à candidatura de Dilma Roussef. O Globo deu destaque não ao fato, mas a uma leitura particular de que se José Padilha, cujo nome constava na relação, não assinou o manifesto, então nenhum dos demais nomes deveria merecer nossa credibilidade. O manifesto foi um fato. O manifesto-fraude foi a notícia.

Na quarta-feira, 20 de outubro, José Serra foi atingido por objetos lançados contra ele durante caminhada em Campo Grande, no Rio de Janeiro. A agressão partiu de uma pessoa, de livre manifestação e cuja conduta merece crítica. Esse foi o fato. Petistas atacam José Serra foi a notícia.

Como ninguém conseguiu enxergar nada além de um borrão naquelas imagens de baixa resolução e tremidas, o Globo dedicou grande espaço no dia seguinte para tentar convencer seu público leitor de que aquilo era um objeto de tamanho considerável. Enquanto isso, lá no final da página, em letras menores, uma notinha: o Brasil atingia o menor nível de desemprego dos últimos oito anos e a renda média do brasileiro cresceu 6,2%. Esse era o fato, mas a careca do José Serra parecia ser muito mais importante para a nação.

No último sábado, ao levantar pela manhã e buscar meu exemplar de O Globo na porta de casa, minha tolerância chegou ao fim. Na sexta-feira, o Jornal Nacional havia apresentado resultados da última pesquisa do DataFolha sobre a avaliação do Governo Lula: a melhor avaliação da história. Mas o que estava na capa de O Globo, hoje? “Lula sai do governo menor do que entrou”. Pra quem? Pro Aécio Neves? Mas e o que pensa a nação? Aécio vale mais que o Brasil para esta instituição?

Estes são apenas exemplos destacados ao longo de uma semana. A prática é recorrente. O Globo sofre de um mal tradicional na grande mídia brasileira: o de se achar imprescindível e o de supor que seus leitores são suficientemente ignorantes para acreditarem que “verdades” e opiniões se confundem.

Assim, ofendido, indignado e nauseado diante de tanto fedor emanando das páginas deste jornal, manifesto minha decisão – tardia, dirão alguns amigos – de cancelar minha assinatura.

Faber Paganoto

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

:: Delicadeza

Eu dirigia vagarosamente, com o pisca alerta ligado, numa rua de mão dupla com apenas uma pista de subida e uma de descida. Nas laterais, carros estacionados paralelamente à rua e eu esperava encontrar uma vaga entre eles. Achei. Já havia percebido que desde que havia entrado naquela rua, um carro me seguia bem de perto, e quando parei para fazer a baliza e estacionar o carro obviamente não consegui porque o carro que me perseguia estava coladinho na minha traseira. Suspirei. Abri o vidro. Coloquei a mão para fora e sinalizei que queria estacionar, que ele cortasse pela esquerda, não vinha carro nenhum na contra-mão (não vinha ao longo de todo o processo, aliás). O carro deu uma breve ré, embicou para a esquerda, mas antes de passar por mim, encostou. O motorista abriu a janela. Um senhor, de uns 60 anos, talvez um pouco menos. E então ele perguntou "onde foi que você fez aula de direção?". Minha vontade foi de responder que independente de onde tivesse tido aulas de direção, certamente teria sido em algum lugar melhor que aquele onde ele havia aprendido, pois me ensinaram que pisca alerta significa parada repentina a qualquer momento e me ensinaram, ainda, que em qualquer circunstância devemos primar pela direção defensiva, mantendo distância de segurança em relação aos carros da frente. Mas ele perguntou aquilo e foi seguindo, devagarzinho. Não haveria tempo. Então tive que ser objetivo e usar de toda a minha delicadeza para dizer "Vai-tomar-no-olho-do-seu-cu-velho-filho-duma-puta!!!"

domingo, 17 de outubro de 2010

:: Debate Folha/Redetv

As ações da Petrobras se valorizaram em função do crescimento de Serra nas pesquisas, né? Aí eu pergunto: ações valorizam-se e desvalorizam-se por quê? Especulação. E quem ganha com especulação? Especuladores. Baderneiros endinheirados que ganham dinheiro virtual em cima de nada. Eu não quero entregar meu país a especuladores financeiros internacionais.

A telefonia avançou desde que FHC e Serra privatizaram a telebrás, né? Aí eu me pergunto: será que o peso maior nesse processo de capilarização do acesso a telefonia não cabe aos avanços técnicos que permitiram o barateamento das redes de telefonia? E me pergunto ainda: será que as pessoas se dão conta de que o custo das tarifas básicas de serviços que foram privatizados, a saber, telefonia e energia, passou de 10% para 23% da renda média do brasileiro entre 1998 e 2008?

Quem pensa um pouquinho vota na Dilma. Quem pensa um pouquinho execra o Serra. Quem pensa um pouquinho não acredita na Veja, na Folha, no Globo e no discursinho de valorização do patrimônio público que o Serra faz na TV.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

:: Aborto e outros conservadorismos

Poucas coisas me irritam mais do que conservadorismo. Se os rumos dessa eleição mudarem em função da temática do aborto, vai ser repugnante.

Sou a favor do aborto, da legalização das drogas e do casamento homossexual.

Não porque eu queira abortar, fumar um baseado ou me casar com outro homem. Sou a favor por dois motivos fundamentais.

O primeiro, porque não importa o que eu quero pra mim, qual a minha verdade, quais as minhas crenças e os meus valores. Importa que eu vivo em uma sociedade diversificada e como tal, devo respeitar interesses alheios aos meus.

O segundo, porque aborto, uso de drogas e casamentos gays já acontecem. Achar que a ilegalidade impede sua existência é ingênuo e inócuo. A questão é que ao legalizar, muda-se o foco do debate. A mulher que aborta clandestinamente, por exemplo, passaria a fazer o que já fazia de forma mais segura, bancada com recursos próprios ou do governo, dependendo de sua renda. O usuário de drogas deixaria de ser um caso de polícia e passa a ser um caso de saúde pública. E os gays poderiam garantir direitos tão caros aos casais heterossexuais, como o compartilhamento de bens.

Me parece primitivo que as pessoas que são contra essas questões se incomodem tanto com sua legalização. Ora, eu não vou passar a injetar heroína se o seu consumo passar a ser legalizado. Nem vou usar o aborto como método contraceptivo ou casar com meu amigo mais próximo.

Você não gosta? Não usa? Acha errado? Ok. Direito seu. Mas o mundo não gira entorno do seu umbigo.

A seguir, as capas de Veja, em 2010 e em 1997.

Na capa desta semana, a condenação de Dilma, a candidata malvada, que defende o aborto, essa coisa do capeta. O Brasil não pode ser governado por alguém assim. E o direito à vida?

Na capa de 1997, celebridades brasileiras assumem ter feito aborto, esta prática coerente com a autonomia reprodutiva e que deveria ser defendida por um Estado laico.

Mudar de lado ao sabor do vento. Veja só que ironia...