O Centro Administrativo São Sebastião (CASS), mas conhecido como Piranhão, é onde funciona (?) a Prefeitura do Rio de Janeiro. Para quem não sabe, Piranhão é uma referência ao antigo uso da área onde o prédio foi construído. Era lá que funcionava (!) a Vila Mimosa. Se você não sabe o que é a Vila Mimosa e mesmo com o apelido do prédio da prefeitura continua sem ter a menor idéia, pergunte ao homem mais próximo que ele te explica.
E aí que eu precisei ir ao Piranhão na semana passada. Já fazia um mês que eu havia decidido pedir exoneração do município e toda essa burocracia se resolve (?) por lá. Mas não foi a burocracia o que mais me chamou a atenção durante as duas horas que passei no CASS. Por ela eu já esperava. O que realmente me intrigou foi o sistema de referências espaciais pelo qual as pessoas no Piranhão se orientam. Observem:
Cena 1 - Faber vai à Secretaria Municipal de Educação
- Oi, bom dia, eu gostaria de dar entrada num processo de exoneração.
- Não é aqui. É no Protocolo Geral, no Térreo. Desce este lance de escada e entra na segunda porta após o elevador.
Cena 2 - Faber vai ao Protocolo Geral
- Oi, bom dia, eu gostaria de dar entrada num processo de exoneração.
- Não é aqui. Olha ali naquele papel que está dizendo onde é.
Pausa para ler o papel.
- Oi, o papel diz que é no 10º andar, mas não diz em que sala.
- É no corredor à esquerda da mesinha de madeira.
Cena 3 - Faber vai ao 10º andar
- Oi, bom dia, eu gostaria de dar entrada num processo de exoneração.
- Ai, aquela mulher do Protocolo é foda. Olha, é no 10º andar, mas é do prédio anexo, tá? Faz assim: você desce, sai deste prédio pelos fundos e entra no portão em frente ao quiosque de xerox. Aí sobe até o 10º andar de lá.
Cena 4 - Faber vai ao 10º andar do prédio anexo e encontra uma recepção e uma mesinha de madeira
- Oi, bom dia, eu gostaria de dar entrada num processo de exoneração.
- Segue aquele corredor ali e procura a senhora sentada na quarta mesa após a segunda pilastra.
Cena 5 - Faber vai até a senhora na quarta mesa
- Oi, bom dia, eu gostaria de dar entrada num processo de exoneração.
- Você precisa providenciar os documentos que estão listados naquele papel ali.
O papel dizia: a) Nada consta do Previ-Rio (11º andar); b) Nada consta do Inquérito (8º andar) e c) Cópia da Identidade. Eu que não sou bobo perguntei a senhora na quarta mesa:
- Estes andares são neste prédio ou em algum outro?
- Neste. E a xerox tem que ser lá fora porque o homem do quiosque de xerox não apareceu mais.
Cena 6 - Faber vai ao 11º andar
- Oi, eu preciso de um Nada consta.
- Tem que pedir ali naquela salinha, depois do terceiro sofá.
- Oi, eu preciso de um Nada consta.
- Ih, senta e espera que vai demorar um pouquinho. A outra funcionária está grávida e não apareceu hoje. Deve estar se sentindo mal, sabe? Então eu tô sozinha e essas coisas demoram, você sabe, né? Se quiser um cafezinho eu acabei de passar. Mas o açúcar acabou, só tem adoçante.
Cena 7 - Faber vai ao 8º andar
- Oi, eu preciso de um Nada consta.
- Me diz sua Matrícula e seu nome que eu solicito. Pode aguardar aqui mesmo que é rápido.
Vou poupá-los das cenas subseqüentes. Eu fui até o Estácio e consegui fazer a cópia da minha Identidade. Voltei na senhora da quarta mesa com todos os documentos e ela me entregou um protocolo. Daqui a pouco eu preciso ligar pra um número escrito no protocolo para verificar se a exoneração foi publicada em Diário Oficial.
Algumas conclusões/ inquietações:
1. As salas nos prédios na Prefeitura ou não têm número ou os funcionários acham muito prático indicar móveis e similares como referência.
2. O melhor investimento do momento é abrir um quiosque de xerox no Piranhão.
3. Por que não colocam a porra do papel com os documentos necessários ao pedido de exoneração no mural do Protocolo Geral?
4. A burocracia para solicitar a exoneração é um estímulo extra para querer me ver livre da Prefeitura.
5. Eu virei fã do Inquérito, que fica no 8º andar do prédio anexo.