Olha, eu tô longe de ser uma pessoa plenamente bem resolvida com meu corpo. Quando criança, tinha vergonha de ficar pelado na frente de qualquer um que não fosse minha mãe ou meu pai, ainda que eles não tivessem qualquer pudor em relação a nudez. Na adolescência, o corpo em transformação ampliou o pudor. Aos quinze anos, enquanto meus amigos já exibiam sovacos cabeludos e eu continuava com aquela bunda de neném debaixo dos braços, ir à praia exigia preparação psicológica para pensar que tava tudo bem, deixa isso pra lá e curte a praia com seus amigos. Atualmente rio disso tudo mas era uma coisa horrorosa. Ser adolescente é uma coisa horrorosa, aliás. Tantos padrões aonde se encaixar, tantas pessoas para não decepcionar, tantas regras pra descumprir...
Mas eu tava dizendo que eu tive problemas com o nu. Hoje encaro de forma diferente e ainda que não saia andando pelado por aí - acho que mais por medo de ser preso por atentado ao pudor do que por qualquer outro motivo - penso que nosso corpo é lindo qualquer que seja sua forma ou cor e que os padrões aos quais os adolescentes (não só eles, mas principalmente eles) tentam se adequar são apenas prisões maquiavelicamente construídas em suas mentes pela propaganda, sempre ela.
Tudo isso pra dizer que me incomodam certas reações diante do nu. Ontem fui assistir ao musical Hair, no Casagrande. Hair fala de repressão e de liberdade, de prisões e rebeliões, de rasgar normas de conduta, de assumir-se como se é, de identificar-se em qualquer um porque de algum modo todos somos iguais. Um dos personagens centrais vive um dilema muito comum: seguir seus instintos e viver a vida como ele realmente deseja ou vestir o uniforme do bom filho, conseguir um bom emprego, formar família e servir a pátria? O primeiro ato termina com uma cena na qual este personagem é desafiado por seus amigos, todos hippies, a despir-se de seus medos e a enfrentar a vida destemidamente. E então, à meia luz, todos em cena ficam nus. Todos, menos ele. A luz apaga. Intervalo de quinze minutos.
Eu esperava ouvir comentários empolgados sobre a bela montagem do musical, sobre o profissionalismo da produção, sobre a encantadora voz do tal personagem, sobre os bailarinos, a orquestra, o cenário, o enredo, a atualidade da história passada em 1968. Mas eu ouvi que a cena da nudez era desnecessária, sem propósito. Olhei atônito pra minha mulher e quase propus ficarmos nus ali, em sinal de protesto. Mas preferi permanecer vestido e escrever no blog por temer que não houvesse wireless na cadeia.
Mas eu tava dizendo que eu tive problemas com o nu. Hoje encaro de forma diferente e ainda que não saia andando pelado por aí - acho que mais por medo de ser preso por atentado ao pudor do que por qualquer outro motivo - penso que nosso corpo é lindo qualquer que seja sua forma ou cor e que os padrões aos quais os adolescentes (não só eles, mas principalmente eles) tentam se adequar são apenas prisões maquiavelicamente construídas em suas mentes pela propaganda, sempre ela.
Tudo isso pra dizer que me incomodam certas reações diante do nu. Ontem fui assistir ao musical Hair, no Casagrande. Hair fala de repressão e de liberdade, de prisões e rebeliões, de rasgar normas de conduta, de assumir-se como se é, de identificar-se em qualquer um porque de algum modo todos somos iguais. Um dos personagens centrais vive um dilema muito comum: seguir seus instintos e viver a vida como ele realmente deseja ou vestir o uniforme do bom filho, conseguir um bom emprego, formar família e servir a pátria? O primeiro ato termina com uma cena na qual este personagem é desafiado por seus amigos, todos hippies, a despir-se de seus medos e a enfrentar a vida destemidamente. E então, à meia luz, todos em cena ficam nus. Todos, menos ele. A luz apaga. Intervalo de quinze minutos.
Eu esperava ouvir comentários empolgados sobre a bela montagem do musical, sobre o profissionalismo da produção, sobre a encantadora voz do tal personagem, sobre os bailarinos, a orquestra, o cenário, o enredo, a atualidade da história passada em 1968. Mas eu ouvi que a cena da nudez era desnecessária, sem propósito. Olhei atônito pra minha mulher e quase propus ficarmos nus ali, em sinal de protesto. Mas preferi permanecer vestido e escrever no blog por temer que não houvesse wireless na cadeia.
2 comentários:
Ué, cadê o botão de curtir?
hahahaha Perfeito!! É primeiro texto do seu blog que estou lendo, mas gostei do jeito descontraído que escreve.. Irei acompanhar!
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