O ano era 2005 (ou 2006, mas isso é pouco importante) e aquele foi um mês de março tão molhado quanto o que vivemos agora. Não guardo lembranças da temperatura, mas duvido que tenha sido tão quente quanto este março infernal. Enfim, a história se passa num mês de março chuvoso e aceitavelmente quente há quatro ou cinco anos.
O dia era sexta-feira, e disso não tenho dúvidas. O programa da noite era beber no Bar Luiz, na rua da Carioca e eu estava na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. O trânsito até lá me tomaria algumas horas mas minha namorada só sairia do trabalho dali a um tempo e eu não tinha outra alternativa senão fazer hora no trabalho. Na verdade eu podia fazer hora no Bar Luiz, sozinho, mas na Maré tinha ar condicionado e msn.
Embora o barulho distante me certificasse de que chovia, não poderia imaginar que lá fora um dilúvio se armava. E eu provavelmente saberia do dilúvio tarde demais se não fosse pelo detalhe de que o galpão em que foram construídas as salas da instituição em que eu trabalhava ficava a cerca de meio metro abaixo do nível da rua, o que em caso de dilúvios criava (cria ainda?) uma pressão sobrenatural sobre as tubulações de água e esgoto. O fato é que eu estava feliz e contente me distraindo no msn com alguns amigos quando fui surpreendido por um chafariz que jorrava do sanitário e do ralo no banheiro.
Talvez tenha sido mais lento do que o que consigo lembrar mas a sensação é a de que não foram necessários mais que 20 minutos para a água que jorrava, somada a água que entrava agora pela porta da frente do galpão, alcançasse dois palmos de altura, inundando todas as salas e me impondo a missão de ter que salvar livros, computadores e demais bens da instituição. Era sexta e era tarde, como disse, e portanto só contei com a ajuda de outros dois colegas, Chico e Valdean, que ainda estavam na área.
Muita coisa foi salva, mas quando a água chegou às tomadas achamos prudente deixar o local e foi só então que me dei conta de que meu carro recém adquirido estava lá fora, com a água já cobrindo os pneus (Ahá! Era 2006, pois comprei o carro em junho de 2005). Entrei no carro e saí dali. Não sabia muito o que fazer, pois a Avenida Brasil inundada me esperava uns 20 metros adiante. Por sorte consegui subir num posto de gasolina e ali passei algumas horas. Muitas horas. Das 18h as 2h da manhã para ser mais específico.
Ao longo destas oito horas de espera, ilhado num posto lotado de outros náufragos, vi dois ônibus de turismo perderem o controle e serem empurrados pela correnteza um contra o outro, um carro dos laboratórios Sérgio Franco cheio de amostras de fezes e urina tombar (o que me fez imaginar que a empresa tenha solicitado ao seguro a condição de perda total) e um grupo de pessoas abrirem a marretadas as portas do depósito da Ortobom e de lá levarem muitas dezenas de colchões ensopados. Vi alguns motoristas sendo assaltados, um assaltante sendo espancado por não conseguir fugir em meio a tanta água, e muitas outras coisas menos impactantes que as já registradas aqui.
Durante algum tempo não conseguia falar com minha namorada pra saber se ela estava segura e para dizer que eu estava vivo. A chuva parou depois de algumas horas mas a água não parecia muito interessada em baixar. Só quando senti que havia condições mínimas de deixar o posto segui meu caminho, ainda receoso de encontrar outros bolsões d'água até meu destino. Cheguei em casa bem.
Não consigo lembrar de sentir medo de chuva quando era criança ou adolescente. Mas hoje se começa a chover tenho uma sensação estranha, mistura de ansiedade e inquietação. Medo. Hoje tenho medo de chuva. Com raios e vento então... Deve ter alguma coisa a ver com esse episódio de 2006, né?
O dia era sexta-feira, e disso não tenho dúvidas. O programa da noite era beber no Bar Luiz, na rua da Carioca e eu estava na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. O trânsito até lá me tomaria algumas horas mas minha namorada só sairia do trabalho dali a um tempo e eu não tinha outra alternativa senão fazer hora no trabalho. Na verdade eu podia fazer hora no Bar Luiz, sozinho, mas na Maré tinha ar condicionado e msn.
Embora o barulho distante me certificasse de que chovia, não poderia imaginar que lá fora um dilúvio se armava. E eu provavelmente saberia do dilúvio tarde demais se não fosse pelo detalhe de que o galpão em que foram construídas as salas da instituição em que eu trabalhava ficava a cerca de meio metro abaixo do nível da rua, o que em caso de dilúvios criava (cria ainda?) uma pressão sobrenatural sobre as tubulações de água e esgoto. O fato é que eu estava feliz e contente me distraindo no msn com alguns amigos quando fui surpreendido por um chafariz que jorrava do sanitário e do ralo no banheiro.
Talvez tenha sido mais lento do que o que consigo lembrar mas a sensação é a de que não foram necessários mais que 20 minutos para a água que jorrava, somada a água que entrava agora pela porta da frente do galpão, alcançasse dois palmos de altura, inundando todas as salas e me impondo a missão de ter que salvar livros, computadores e demais bens da instituição. Era sexta e era tarde, como disse, e portanto só contei com a ajuda de outros dois colegas, Chico e Valdean, que ainda estavam na área.
Muita coisa foi salva, mas quando a água chegou às tomadas achamos prudente deixar o local e foi só então que me dei conta de que meu carro recém adquirido estava lá fora, com a água já cobrindo os pneus (Ahá! Era 2006, pois comprei o carro em junho de 2005). Entrei no carro e saí dali. Não sabia muito o que fazer, pois a Avenida Brasil inundada me esperava uns 20 metros adiante. Por sorte consegui subir num posto de gasolina e ali passei algumas horas. Muitas horas. Das 18h as 2h da manhã para ser mais específico.
Ao longo destas oito horas de espera, ilhado num posto lotado de outros náufragos, vi dois ônibus de turismo perderem o controle e serem empurrados pela correnteza um contra o outro, um carro dos laboratórios Sérgio Franco cheio de amostras de fezes e urina tombar (o que me fez imaginar que a empresa tenha solicitado ao seguro a condição de perda total) e um grupo de pessoas abrirem a marretadas as portas do depósito da Ortobom e de lá levarem muitas dezenas de colchões ensopados. Vi alguns motoristas sendo assaltados, um assaltante sendo espancado por não conseguir fugir em meio a tanta água, e muitas outras coisas menos impactantes que as já registradas aqui.
Durante algum tempo não conseguia falar com minha namorada pra saber se ela estava segura e para dizer que eu estava vivo. A chuva parou depois de algumas horas mas a água não parecia muito interessada em baixar. Só quando senti que havia condições mínimas de deixar o posto segui meu caminho, ainda receoso de encontrar outros bolsões d'água até meu destino. Cheguei em casa bem.
Não consigo lembrar de sentir medo de chuva quando era criança ou adolescente. Mas hoje se começa a chover tenho uma sensação estranha, mistura de ansiedade e inquietação. Medo. Hoje tenho medo de chuva. Com raios e vento então... Deve ter alguma coisa a ver com esse episódio de 2006, né?
5 comentários:
cenário de hoje> livros perdidos e paredes mofadas. nada que se compare ao que aconteceu com vc...as coisas por aqui têm melhorado...
Nossa, Faber. E eu achando que ter
que subir no pára-choque de um Frontier estacionado para não molhar o tênis já era uma grande odisseia.
Btw, há quanto tempo! Passei aqui pra ler seus posts e matar um pouco a saudade.
Abraços!
Como você não atualiza seu blog, vou responder aqui mesmo: bom ter notícias suas. Apareça mais vezes, aqui e lá no colégio, para batermos um papo. E o melhor: sem vestibular como pauta.
rapaz, acho que conheço esse lugar, viu... mas, segundo dizem as línguas administrativas, isso é coisa do passado e algumas dezenas de obras já resolveram o problema: não enche mais...
aaaah, faber teu blog é o melhor!
saudades
tijuca debaixo d'água
o/
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