Era um dos meus destinos prioritários. Figuraria nas primeiras páginas do meu livro "1001 lugares pra conhecer antes de morrer" se eu o tivesse editado. Por tudo o que a cidade representa, por tudo o que se pode encontrar por lá, pela convergência de artes e gentes. Mas eu não esperava encontrar o que se poderia chamar de um lugar aprazível. Essa foi uma das maiores surpresas depois de alguns dias em Nova Iorque.
Era inverno, então as cores não se faziam muito presentes. Mas mesmo os galhos secos e nus do indescritível Parque Central guardavam suas nuances. O céu era de um azul tão intenso que de algum modo parecia desconfortável diante de tanto frio. O sol fazia falta, não porque não tivesse se levantado, mas porque se escondia atrás dos prédios durante quase todo o dia, o que acabava se refletindo numa especial adoração às frestas de sol qe atingiam as calçadas.
Ruas largas, muitas pequenas praças, imensos prédios em vidro espelhado dividindo a mesma calçada com pequenas casas geminadas em tijolo aparente. Fora do burburinho da iluminadíssima Times Square, exageradamente vestida de anúncios pubicitários, impera a discrição e a sobriedade nas fachadas e nas calçadas. Mas nem a forte presença de linhas retas e tons sóbrios consegue deixar a cidade carrancuda.
Difícil acreditar que se trata de uma cidadezinha com cerca de 8 milhões de habitantes. Talvez pelo frio, as ruas estavam predominantemente vazias. Vazias de pessoas vestindo elegantes sobretudos e pesados casacos. E mesmo as mais cheias não se aproximavam de uma Praça Saens Pena ao meio dia de uma segunda-feira. Circulava pelas ruas um copão de bebida quente para cada pedestre e rapidamente descobri que trata-se menos um hábito alimentar e mais uma estratégia para vencer o frio. O copo aquece as mãos, a bebida aquece o corpo.
Lá consegui perceber a supressão do espaço pelo tempo em um outro nível de apreensão. A cidade imensa parece caber na palma da mão. Da rua 48 à 17 e de lá à 72 e depois à 34 em poucos minutos praticamente sem dar as caras à superfície. "Transferências disponíveis para os trens 1, 3, 5, A, B, C, N, R, Q e W" e outras frases semelhantes, com alterações de números e letras ao final, eram ouvidas a cada estação do metrô.
Mas que fique registrado que a velha fama de que a cidade não dorme deve ser relativizada. Dorme pouco, eu diria. Mas dorme.
Também me surpreendi com a gentileza das pessoas. Um mal humorado aqui e outro ali e chega. Na maioria das vezes em que precisei ou pareci precisar de ajuda a obtive prontamente. Certa vez, ao perguntar sobre uma loja recebi como resposta: 'ih, não sei, mas vejo aqui no google'. Ela sacou o celular da bolsa e eu consegui chegar aonde queria. Prestatividade + tecnologia.
Fiz muita coisa. O básico e algo a mais. Museus, prédios históricos, monumentos, espetáculos na Broadway, jogo de basquete no Madison Square Garden, pizza em Little Italy, becos em Chinatown... Mas deixei coisas por fazer. Um dia resolvo essas pendências. Mas até lá, tenho outras páginas do meu livro não-editado a explorar.