A última vez que estive lá foi no carnaval de 1995. Eu ainda não sabia que aquela seria a última vez. Esse é o tipo de coisa que não passa pela cabeça quando se tem doze anos. Minha grande preocupação naquele carnaval era a segunda colocação da Portela. Por apenas 0,5 ponto em evolução, a Imperatriz levou o caneco.
O lugar fica a pouco mais de 200 km do Rio de Janeiro. Cerca de oito quilômetros de estrada de chão separam o asfalto da BR 101 do meu pequeno paraíso memorial. Até hoje, fecho os olhos e sou capaz de passear por cada pedacinho da Aldeia. Velha Aldeia dos tempos em que as férias de verão duravam três meses.
As idas frequentes cessaram porque meu avô vendeu a casa. Ainda sinto o cheiro dela. Café no copo de vidro debruçado na janela vendo a chuva criar poças no quintal. Deliciosos galetos sendo devorados sem que eu notasse que eles eram as rãs do brejo da rua de trás. Eu achava que odiava rã, mas minha avó era mais esperta que eu.
São quatorze carnavais sem virar aquela esquina de chão roxo por culpa dos jamelões. Quatorze carnavais sem medo de cortar caminho pelo terreno dos jambeiros porque os morcegos podiam voar baixo e me morder. Mais tempo desde então do que até então.
Enumero cada um dos poços, represados com pedras arredondadas escolhidas no fundo do próprio rio. Eu preferia os do rio de cima: Poço do Ernesto, do Bambuzal, do Barranco e o da Árvore Oca.
Na rua que começa lá em cima ao lado da igrejinha e que termina, sem saída, cá embaixo, nos fundos do bar do Jobim, tem uma moça que vende mel. Ela também faz móveis para boneca com restos de madeira. O mais legal era se fingir interessado em comprar mel para poder provar todos os sabores. Lembro especialmente do mel de laranjeira.
Eu poderia ter voltado. Mesmo naquele tempo já havia uma pousada por lá. Na pousada tem um lago com carpas que me pareciam os maiores peixes do mundo. Mas eu tenho medo de voltar. Tenho medo de que o retorno transforme a Aldeia das minhas lembranças em ruínas concretas. Sem cheiro de mato, sem massinha amarela pra pescar, sem banho de chuva.
Tenho medo de que entre a mercearia do Leco e o chalé que vendia cachorro quente de noitinha tenha surgido um lixão fedorento. De que o bar do Cirley não tenha mais o único telefone público da cidade. De que seja necessário pagar uma taxa pra pular da ponte no poço do Luis Nelson.
Mas este ano decidi que vou encarar meus medos. Quatorze anos mudam muita coisa, mas não podem me impedir de resgatar parte da minha infância. E as mudanças na Aldeia concreta não destruirão a minha Aldeia. Esta permanecerá para sempre intocada em minha memória.
O lugar fica a pouco mais de 200 km do Rio de Janeiro. Cerca de oito quilômetros de estrada de chão separam o asfalto da BR 101 do meu pequeno paraíso memorial. Até hoje, fecho os olhos e sou capaz de passear por cada pedacinho da Aldeia. Velha Aldeia dos tempos em que as férias de verão duravam três meses.
As idas frequentes cessaram porque meu avô vendeu a casa. Ainda sinto o cheiro dela. Café no copo de vidro debruçado na janela vendo a chuva criar poças no quintal. Deliciosos galetos sendo devorados sem que eu notasse que eles eram as rãs do brejo da rua de trás. Eu achava que odiava rã, mas minha avó era mais esperta que eu.
São quatorze carnavais sem virar aquela esquina de chão roxo por culpa dos jamelões. Quatorze carnavais sem medo de cortar caminho pelo terreno dos jambeiros porque os morcegos podiam voar baixo e me morder. Mais tempo desde então do que até então.
Enumero cada um dos poços, represados com pedras arredondadas escolhidas no fundo do próprio rio. Eu preferia os do rio de cima: Poço do Ernesto, do Bambuzal, do Barranco e o da Árvore Oca.
Na rua que começa lá em cima ao lado da igrejinha e que termina, sem saída, cá embaixo, nos fundos do bar do Jobim, tem uma moça que vende mel. Ela também faz móveis para boneca com restos de madeira. O mais legal era se fingir interessado em comprar mel para poder provar todos os sabores. Lembro especialmente do mel de laranjeira.
Eu poderia ter voltado. Mesmo naquele tempo já havia uma pousada por lá. Na pousada tem um lago com carpas que me pareciam os maiores peixes do mundo. Mas eu tenho medo de voltar. Tenho medo de que o retorno transforme a Aldeia das minhas lembranças em ruínas concretas. Sem cheiro de mato, sem massinha amarela pra pescar, sem banho de chuva.
Tenho medo de que entre a mercearia do Leco e o chalé que vendia cachorro quente de noitinha tenha surgido um lixão fedorento. De que o bar do Cirley não tenha mais o único telefone público da cidade. De que seja necessário pagar uma taxa pra pular da ponte no poço do Luis Nelson.
Mas este ano decidi que vou encarar meus medos. Quatorze anos mudam muita coisa, mas não podem me impedir de resgatar parte da minha infância. E as mudanças na Aldeia concreta não destruirão a minha Aldeia. Esta permanecerá para sempre intocada em minha memória.
4 comentários:
que lindo *-*
é sempre bom encarar os medos, te dou maior força e confiança pra isso! Encarar os medos são os maiores desafios que um ser humano pode ter, e se não ha medos, não ha o que enfrentar!
E a sua recordação ninguem vai apagaar da sua memória.!
"A Vila" está apenas em filmes de ficção!
Engraçado! Eu sempre escutei falar na época da minha avó que o poço do ernesto foi por causa que o pai dela caiu e morreu , por isso este nome.O pai dela se chamava Ernesto.E fui a Aldeia Velha e ñ conheci este poço.Que pena!!!!!
Engraçado! Eu sempre escutei falar na época da minha avó que o poço do ernesto foi por causa que o pai dela caiu e morreu , por isso este nome.O pai dela se chamava Ernesto.E fui a Aldeia Velha e ñ conheci este poço.Que pena!!!!!
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