quinta-feira, 3 de abril de 2008

:: Sobre paladar

Acho muito pouco convincente essa história de que a gente pode acostumar o paladar. Sabe do que eu estou falando, né? Aquele povo que entende de vinho e faz cara feia pra quem só bebe vinho suave. "Muda pro démi-sec, aos poucos você acostuma o paladar e depois passa a beber os vinhos secos, de melhor qualidade"... Ora bolas, se eles são de melhor qualidade por que eu preciso 'acostumar' o paladar? A gente se acostuma com coisa ruim. A gente se acostuma a acordar cedo, a levar o lixo pra fora, a calibrar os pneus, a desligar o rádio às 19h, ao trânsito na volta pra casa. Mas ninguém 'se acostuma' a comer chocolate, ao banho de mar no verão ou a uma sessão de cinema seguida de chopp com os amigos. Tá, o 'acostumar' em questão pode ser entendido como 'treinar', mas ainda assim a gente treina pra ser melhor em algo que não é. A gente treina pra correr mais rápido e pra acertar o dardo no círculo vermelho. Mas eu posso treinar malabares, me tornar um exímio malabarista de sinal e continuar não gostando de malabares. Por que então se eu insistir em beber vinhos de que não gosto vou, um dia, me tornar um grande apreciador de vinhos antes não-apreciados? Concorda que tem algo a mais nessa história? Eu mesmo não suportava a idéia de frequentar um restaurante japonês. Sentia o cheiro do sashimi e tinha que pensar em algo agradável para não vomitar. Mas isso foi há uns 7 anos. Atualmente sugiro rodízio japonês como programa de fim de semana, desço dois pontos antes de casa pra comprar um temaki de salmão com shitake e peço um sashimi de 20 peças no japa do Pão de Açúcar pra levar pra casa e comer no jantar. E não me recordo de ter mantido uma rotina de treinamento do paladar. Será que ele se desenvolveu ou simplesmente mudou? E aí eu continuo cheio de dúvidas: como pôde o paladar mudar se as papilas gustativas que eu tenho aqui na língua continuam as mesmas de antes? Aquele cara, o Freud, será que explica?

4 comentários:

B. Homsi disse...

Se você pedir explicação a Freud, provavelmente ele vai dizer que sua indagação é fruto de alguma libido reprimida, uma frustração sexual ou até que é tudo culpa da sua mãe XD
Falando sério agora, acho que o "costume" pode virar uma coisa boa, não é? Acostumar-se não implica necessariamente algo ruim (sim, eu sei que você disse isso). Posso me acostumar a acordar cedo, a estudar diariamente, a dar bom-dia a todos, sem que isso seja algo aborrecido.
Mas nesse sentido que você exemplificou, em especial - acho que tá certo mesmo. Não sou expert em vinhos, um dia gostaria de ser, até, mas acho puro esnobismo. Mas como você disse de chocolate, não se esqueça que existe o insuportável amargo 99% cacau. Cara, com isso não tem como se acostumar XD
Uma vez comprei o de 85, por fonte de curiosidade, já que o tipo que mais gosto é amargo. Ficou quase um mês na geladeira XD

Tem coisa que é ruim mesmo, e não dá pra se acostumar.

André Lima disse...

É textura. O gosto sempre foi o mesmo, suas papilas gustativas sempre foram as mesmas. Mas o gostar é muito mais que isso. A cabeça conta muito. E ela precisa se acostumar. Mas como aprendi na 6a série, a gente se acostuma a tudo nessa vida. Ainda bem...

Anônimo disse...

A primeira vez que tomei açai eu nao gostei.

mais ai fui e provei novamente e depois mais algumas vezes. hoje eu adoro!

Heitor Achilles disse...

Paladar? Costumes?

Meu caro:


"Todas as formas se mudam, decaem e perecem ou se transformam, são todas efêmeras, fugazes e caducas"

Fazer o quê, não né?

PS: Alta produção!!!!