Ontem fui a uma livraria para ver se algum livro me escolhia. Os livros me escolhem, derramam-se pelos corredores, debruçando-se nas prateleiras, implorando para que sejam levados. Alguns se produzem, capricham no visual e se posicionam sedutoramente diante de mim. Geralmente levam vantagem sobre outros, mais tímidos.
Ontem, algo saiu diferente. Depois de cruzar por dezenas de nomes norte-americanos, franceses, árabes e até mesmo colombianos, encontrei, nas prateleiras escondidas onde descansam as obras em língua portuguesa, um livrinho lilás-sem-graça com um palmo de altura e quatro linhas com letras irregulares e avermelhadas formando as seguintes palavras:
FERNANDO
PESSOA
Poesia completa de
Alberto Caeiro
Não li a orelha; não explorei o índice; não procurei, entre aspas, comentários de jornalistas importantes na parte de trás. Não senti falta de imagens impactantes na capa; não senti necessidade de um título intrigante, convidativo. Retirei-o da prateleira, passei a mão pela capa, segurei-o com as duas mãos e fui direto para o balcão. Paguei e fui para casa satisfeito com meu livrinho. Este - pensei no caminho - acho que fui eu que escolhi.
3 comentários:
Com certeza escolheu.
Optou pela essencia. Òtima escolha!
É bom saber que ainda existem pessoas não se deixam seduzir facilmente por uma capa.
verdade, verdade!
as vezes toda essa vaidade das editoras para com certos livros, faz com que outros se enconlham humildemeente empoeirados na sua própria prateleira ;]
Por isso que eu evito ir em livrarias caçar livros aleatóriamente, baixo a maioria ou pego emprestados sob indicações, assim o risco de se decepcionar e perder dinheiro é menor, capas são mesmo sedutoras. E quase sempre o melhor conteúdo tá nas simples coisas, que ninguém percebe, tal como esse seu... :)
beijos
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